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DESMISTIFICAÇÃO
O cerne da Arte é o belo, ao menos deveria ser. Mas diante de um mundo politizado e de tantas disparidades entre semelhantes ( uns com tanto, outros sem nada), como não utiliza-la como espada – engajada, contrária à Arte pela Arte.
Os Clássicos atribuíam a beleza à harmonia e ao equilíbrio : quanto menos terral, quanto mais ideal o que fazer artístico mais belos e legítimos seriam os seus frutos. Diante da questão artística não poderia deixar de me questionar : Quem é o artista, mormente o escritor, preponderantemente o poeta ? Na minha adolescência eu diria que ele era um abnegado, um escravo das Letras,um autêntico acima de tudo. Pense num que não se rende às opiniões alheias ! Pensou ? Era ele. Dele tudo se esperasse : que desse uma bisca no papa, que levantasse a saia da rainha, que cantasse o hino nacional só de meias e cuecas, que cuspisse na cruz. A ele tudo era permitido pois era por natureza um incompreendido, era o único a rivalizar com os filósofos e entender a natureza das coisas, dos fenômenos e dos seres ( ele escuta as estRelas, zomba do tempo. Aquilo que não sabe ele adivinha ). Mas eis que, nas mesmices das aulas de Literatura Brasileira, começo a vislumbrar outros poetas: tímidos, concentrados, discretos como Drummond, João Cabral. Outros romancistas, mais autênticos, mais honestos e comezinhos, entregues à labuta da Arte, adotando o escrever como um modo de vida, registrando suas impressões da realidade nos papiros modernos com tintas de lágrimas, sangue, suor e não apenas álcool: Graciliano o dramático comedido; Guimarães Rosa o místico semi-tudo e semi-nada e mesmo o Amado, baiano que de tão preguiçoso pensei que se tornaria uma estátua na praça Castro Alves antes de morrer. Passei a ver que não precisava ter um par de asas,nem tão pouco um par de chifres para se enamorar da Língua Portuguesa. Que Leon de Tolstói ao dizer “se queres ser universal, canta a tua aldeia” ecoando antigos escritores russos foi lúcido e não se achava nos domínios de Baco. Eu pensava que para ser poeta você deveria no mínimo ter nascido num ano bissexto, ou no ano de um eclipse. Eu julguei que o poeta nascia sabendo ler e escrever e que ali já falava outras línguas que depois esqueceria pelo desuso junto a nós mortais. Tinha a certeza de que na casa do poeta não se acorria ao Pai dos Burros por desnecessário. Via-os tocados pela eternidade. Então acordei, percebi que para ser um bom escritor você só precisa ser honesto, e não muito honesto, só honesto. Que não precisa obrar milagres mas que tem que ler demais, suar, estudar, deve amar a sua Língua e cultuá-la, não tornar o escrever um hobby. Há que se abraçar a Literatura como uma profissão de fé e de fome não feita para os momentos de boemia, para impressionar o quarteirão, o garçom ou a mulher amada. Os poetas somos nós, és tu. Como todos vamos ao banheiro e vamos ao altar. Ouvimos dizerem a missa, comungamos, confessamos, sofremos mais por outros motivos que os estéticos, temos nossos afazeres bem ordinários.Boêmios sim, mesquinhos também, tossimos, espirramos qual todos.Estamos sujeitos às misérias do tempo, às hipotecas, às vacinas e temos direito a um voto somente. Então, amanhã, ou logo mais quando estiveres ante uma folha em branco ( ou de qualquer cor) e quiseres escrever, escreve, sem medo nem mistificação. Se quiseres publicar então sofre, estuda,molda uma obra da altura do teu caráter e das tuas aspirações. Faça da tua caneta uma espada ou uma cunha. Arte engajada ou Arte pela Arte, detém-te no labor do filho que pretendes gerar.
Marconi Barros
Enviado por Marconi Barros em 25/04/2008
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